// On :terça-feira, 14 de outubro de 2014

Essa é uma postagem que encontrei pela internet, apesar de comentarem sobre os "milhares e bilhares de anos" da terra, o foco pelo qual eu estou postando é o tecido mole encontrado em fósseis de milhões de anos (oque não é a primeira vez que acontece).
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Os Tyrannosaurus rex , "estrelas" do filme Jurassic Park , eram répteis carnívoros que podiam passar de 14 metros de comprimento. (Arte: Maurílio Oliveira / Museu Nacional. Clique na imagem para ampliá-la)
O registro fóssil é realmente surpreendente. Conchas, ossos, ovos, pegadas, dentes, folhas, troncos e pólens são os principais resquícios da vida do passado encontrados nas rochas. Às vezes o paleontólogo se depara até com estruturas frágeis como asas de insetos e penas. Mas encontrar vasos sangüíneos de um dinossauro que depois de milhões de anos ainda mantêm a flexibilidade pode parecer ficção científica. Se um pesquisador publicasse isso há algum tempo, certamente teria sido taxado, na melhor das hipóteses, de charlatão, com possivelmente direito a uma passagem pelo Pinel. Mas cientistas americanos acabam de surpreender o mundo: eles encontraram não só vasos sangüíneos, mas também outras estruturas orgânicas em um dinossauro, e que ainda mantêm pelo menos parte de sua elasticidade!
 
O material em questão pertence ao Tyrannosaurus rex e consiste em alguns ossos isolados, procedentes da Formação Hell Creek, em Montana (Estados Unidos). A idade das camadas rochosas onde esse exemplar foi encontrado é de aproximadamente 65-66 milhões de anos. A julgar pelo fêmur (osso da perna), o indivíduo em questão tinha pouco mais de 10 metros de comprimento, não sendo, portanto, um dos maiores da espécie, que podiam passar dos 14 metros. O material foi coletado por John Horner e sua equipe do Museu das Montanhas Rochosas (Montana). Quando Mary Schweitzer, da Universidade do Estado da Carolina do Norte, teve acesso ao exemplar, ela pôde observar que o material estava bem preservado, mas não havia, em princípio, nada de especial. Ela percebeu apenas uma camada de coloração distinta na parte central dos ossos, que estavam quebrados.
As fotos mostram os tecidos moles de T. rex observados após a desmineralização dos fósseis. As imagens A, B e C mostram diferentes padrões dos vasos sangüíneos e estruturas orgânicas identificadas. O ponto escuro na foto C poderia representar uma célula preservada, como indica a comparação com vasos sangüíneos de avestruz (D), observados após a desmineralização de seus ossos. (fotos: Science )
Aí surgiu uma idéia: em esqueletos recentes, quando se quer analisar a matéria orgânica, existe uma técnica que consiste em retirar a parte mineralizada dos ossos. O que sobra são as partes moles, que podem então ser estudadas. O que aconteceria com o material do T. rex se essa técnica fosse utilizada?
A resposta surpreendeu a todos. Mary e seus colegas descobriram diversas estruturas orgânicas, entre as quais alguns vasos sangüíneos, que mantêm uma elasticidade, são ocos e possuem em seu interior estruturas que se assemelham a células. O trabalho não define a natureza das mesmas, mas traz uma comparação com material de avestruz, cujo conteúdo é formado por células sangüíneas vermelhas. A pesquisa recebeu destaque na edição de 24 de março da revista Science , uma das principais publicações científicas da atualidade.
Por que a descoberta é tão importante? Tecidos "moles" de dinossauros, apesar de bastante raros, já foram encontrados anteriormente. A maior parte esta preservada como impressão na rocha, apresentando uma espécie de molde da superfície externa do couro do animal. Existe um caso único, publicado na revista Nature (em 1996), no qual restos de tecido mole com vasos sangüíneos e fibras musculares se encontram excepcionalmente bem preservados de forma tridimensional em um esqueleto de dinossauro da Bacia do Araripe, no Nordeste do Brasil. O tecido mole desse exemplar ‐ que posteriormente foi chamado de Santanaraptor placidus ‐ foi preservado por substituição, onde a matéria orgânica original deu lugar a minerais (no caso, fosfatos).  No T. rex de Montana, ao contrário, não houve aparentemente nenhuma substituição: a matéria orgânica original (ou pelo menos parte dela) está preservada, o que é confirmado pela sua elasticidade. E isto é surpreendente, quando imaginamos que estamos diante de um animal extinto há dezenas de milhões de anos.
 
Os tecidos moles de T. rex chamam a atenção por ter preservado sua flexibilidade: a região indicada pela seta na foto da esquerda, quando era pressionada, retornava à sua forma original. A foto da direita mostra o aspecto fibroso desses tecidos. (fotos: Science )

Além da descoberta propriamente dita, existe outro ponto dessa pesquisa que, pessoalmente, considero ainda mais interessante. Não existe, aparentemente, absolutamente nada de especial nas rochas onde o material de T. rex foi preservado: um arenito (termo que os geólogos usam para se referir uma rocha com uma determinada granulometria) que se depositou em uma área onde há milhões de anos um rio desembocava no mar. Uma grande parte dos fósseis (não só de dinossauros) em diversos outros depósitos no mundo estão preservados nesse tipo de rocha, encontrada em antigos estuários.
 
Ademais, o fóssil em si não tinha nada de especial ‐ não se via tecido mole como couro, penas ou outras estruturas preservadas junto aos ossos. O esqueleto não é completo e os elementos não estavam sequer articulados, o que tornava o achado relativamente comum. Tudo isso leva a concluir que, se os colegas americanos estiverem corretos quanto ao tecido mole encontrado (os críticos procuram sempre enfatizar a possibilidade de contaminação), ha um enorme potencial para a preservação de matéria orgânica original em diversos outros fósseis, de crocodilomorfos, pterossauros e espécies de outros grupos. Caso isto se confirme no futuro, os cientistas terão mais ferramentas à sua disposição para responder diversas perguntas, em especial sobre como funcionavam os organismos extintos.
 
Vale a pena lembrar que, no Brasil, temos diversos depósitos com material excepcionalmente bem preservado e com grande potencial para esse tipo de estudo. Seria extraordinário se um laboratório nacional que estuda biomoléculas tivesse interesse em desenvolver essa linha de pesquisa. E não será por falta de exemplares fósseis que o Brasil deixará de participar desse tipo de análise, que está na vanguarda do conhecimento científico.

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